Eureka Seven AO falha como anime e como sequência

Quando anunciaram uma sequência para Eureka Seven, todos os fãs conscientes da série original(como eu) já ficaram em alerta: já não bastasse o péssimo filme de 2009, o anime original teve um final conclusivo e fechado, significando que uma segunda parte seria impossível. Eles resolveram isso fazendo de Eureka Seven AO(E7AO) uma sequência-que-na-verdade-é-uma-prequela, e de certo modo expande o mundo e a franquia Eureka Seven como um todo, o problema é que não foi de maneira satisfatória.

Eureka Seven foi um sucesso comercial e de crítica, juntando vários elementos interessantes, como discussões religiosas, intrigas políticas e um enredo bem pensado numa narrativa dinâmica e bem estruturada, também contando com ótimas sequências de ação e um elenco carismático. E7AO faz de tudo pra ser igual a seu antecessor, e falha espetacularmente em quase todos os quesitos. Por exemplo, enquanto no E7 original o enredo era denso mas direto, contando com poucas reviravoltas mas com revelações e mistérios o suficiente para que ele fosse conduzido sem muitos danos, a estória de E7AO é pessimamente escrita e mal conduzida, dependendo demais de reviravoltas mal construídas, sem falar que os mistérios são levados de maneira mal feita, de modo que quando algumas coisas são explicadas você simplismente nem está mais se importando com o que está acontecendo.

Exemplos disso seriam, por exemplo, porque apenas crianças são capazes de pilotar os IFOs, ou quais são as verdadeiras intenções do vilão Truth. Eu acredito que aqui os produtores escolheram não dar essas respostas de bandeja para a audiência, e deixar os espectadores chegarem às respostas sozinhos, o que é muito legal, mas considerando como tudo aqui é apresentado de maneira confusa, entender ou interpretar certos pontos da estória se torna praticamente impossível. No entanto, existem várias coisas que são deixadas simplismente soltas e não são mais retomadas(como o porque de apenas crianças serem capazes de pilotar os robôs), e se isso não é um sinal de que nem os roteiristas estavam mais se importando com a estória, eu não sei do que mais seria.

Enquanto na série original os elementos que davam um tempero à estória(como a questão dos conflitos religiosos) eram só um “adendo” de luxo, que não tinha muito peso no enredo em geral mas servia para caracterizar e desenvolver melhor esse ou aquele personagem, aqui eles usam as manobras políticas como prato principal, o que acaba sendo uma das maiores falhas, já que essa ambientação de vários países em conflito por causa do Coral, o arquipélago de Okinawa se tornando independente, e várias outras coisas, nunca é bem construída e acaba dando a impressão de ser só um dispositivo para garantir que o enredo irá progredir. Principalmente a questão de Okinawa, onde todos os personagens de certo modo relacionados a esse elemento são muito mal apresentados e mal desenvolvidos.

Os personagens são outro aspecto muito mal aproveitado na obra. Muitos deles sequer recebem um desenvolvimento decente, vários não são nem apresentados de uma boa maneira, de modo a realçar bons aspectos da personalidade deles, ou seja, eles não tem carisma. Tal como foi dito anteriormente, quando algum deles ganha um certo destaque, como aconteceu com o Ivica, você já está se perguntando se valeu a pena esperar tanto tempo de má apresentação por um desenvolvimento tão pífio. Ivica teve sorte por ao menos ter sua história explicada, porque outros nem isso. A turma do Gazelle, por exemplo, é inacreditável que eles, recém-chegados na companhia e já recebam trabalhos tão importantes. O jeito com que eles são lidados faz com que eles sejam mais dispositivos para manter a narrativa andando do que realmente personagens. E tem também o Ao e o Truth.

Ao, o protagonista, é muito inconstante. Uma hora ele age de maneira valente e corajosa(pelo menos pelos padrões de protagonistas mecha), ou seja, ele grita de raiva; outra hora ele age como um típico chorão medroso. Ele fica variando entre esses comportamentos, e você acaba se perguntando se essas mudanças de atitude deveriam ser o desenvolvimento do personagem dele. Truth, o antagonista, é outra incógnita. Ele é o típico vilão superpoderoso sem nenhuma personalidade ou objetivos aparentes, por ser tão forte o resto do personagem dele é totalmente ignorado. O que é pior, o anime ainda explica a história e as origens dele, mas todo o resto é deixado para o espectador juntar os pontos, e como nada aqui é explicado direito, isso se torna impossível. Enquanto existem vilões que cativam e as vezes até nos fazem torcer por eles, os produtores conseguiram a façanha de cada segundo que ele aparece na tela ser torturante.

A única coisa boa que E7AO tem a oferecer é a animação, que é maravilhosa. A única coisa que teve realmente um desenvolvimento foram as cenas de ação, que começaram simples, mas que logo evoluíram para o nível Eureka Seven de batalhas. No início, como os inimigos eram mais simples, as lutas também não eram tão dinâmicas, mas com o decorrer da série, os inimigos aumentam de nível, e a animação também deu um salto, principalmente com a preseça de vários missile circus de qualidade excepcional. Agora, se ele ao menos tivessem arranjado um roteiro que honrasse o investimento feito na animação…

Eureka Seven AO tem sinais óbvios de que tentou ser igual a seu antecessor, Eureka Seven. Mas, talvez por ter apenas metade da duração deste, várias coisas passam a impressão de serem forçadas e/ou abordadas com pouco cuidado. O original, em todos os aspectos, supera a série mais recente. Faça-se um favor e evite assistir isso.